Dom Antônio Luiz Catelan e sua amizade com o Papa Emérito Bento XVI

“Ele se lembrava de mim e perguntava de coisas bem específicas daqui.”

Dom Antônio Luiz Catelan Ferreira, primeiro Padre formado na Diocese de Umuarama a ser Ordenado Bispo e hoje Bispo auxiliar da Arquidiocese do Rio de Janeiro, concedeu uma entrevista à CNBB, em que contou sua proximidade com o Papa Emérito Bento XVI. Falecido aos 95 anos, no último sábado 31 de dezembro de 2022, no Mosteiro Mater Ecclesiae, no Vaticano.
Catelan e Papa Bento XVI

“Nesse período do emeritato, eu tive a oportunidade de me encontrar por 12 vezes com ele. Algumas para oração, para o Terço, ou logo após o Terço, para um diálogo; tive a possibilidade de concelebrar com ele a Santa Missa. Então, eu conto isso como uma graça de Deus na minha vida. Conhecê-lo de perto e ser conhecido por ele, porque quando eu chegava ali, ele se lembrava de mim e perguntava de coisas bem específicas daqui, então é uma grande graça”, detalha o Bispo.Design sem nome 37Sobre a contribuição para o ministério, ele destaca a teológica, a espiritualidade e o ministério. Do ponto de vista teológico, a contribuição de Ratzinger, para Catelan, é de primeira grandeza. “É o autor mais inspirador para mim. Inclusive, na PUC do Rio, onde eu sou bispo auxiliar e continuo como professor, há uma Cátedra que foi fundada em 2012, a “Cátedra Joseph Ratzinger”, que eu presido e desenvolvo atividades, pois eu secretario a sociedade Ratzinger do Brasil, que é presidida por Dom Odilo [Scherer], e o vice-presidente é dom Jaime Spengler, o primeiro vice-presidente da CNBB”.

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“E para o meu Ministério presbiteral e, agora, episcopal também, eu peço sempre a Deus a graça de que, no centro do Ministério e explicitamente, esteja esse apelo ao encontro com Cristo e a transmissão da fé”, destaca Dom Antônio Luiz.

O último encontro do Bispo Auxiliar do Rio de Janeiro com Bento XVI foi em dezembro de 2021. “No dia de Nossa Senhora de Guadalupe, e ele lembrou disso. Eu já estava eleito bispo, não estava ainda ordenado e ele me presenteou com a Cruz peitoral dele, que eu uso em ocasiões mais solenes, com grande alegria”.

Design sem nome 38Eleito Papa em 19 de abril de 2005, para suceder a João Paulo II, Bento XVI teve a continuidade enquanto um dos seus legados. Para Dom Catelan, ele foi o Papa da reforma, na continuidade. “A continuidade com questões do pontificado de São João Paulo II é bem clara”, segundo o bispo, por exemplo, o tema da santidade e o combate à violência sexual contra menores, temática sobre a qual “Ratzinger se mostrava insatisfeito com a legislação vigente e colaborou para promover um início da modificação da legislação, ainda no pontificado de São João Paulo II e, depois, ele mesmo promoveu mudanças extremamente significativas”.

Em entrevista inedita Bento XVI fala sobre Joao Paulo II

Foto: Rádio Vaticano

Dom Antônio Luiz Catelan lamenta a abordagem da figura de Bento XVI pela mídia. “Primeiramente, a respeito da imagem de Ratzinger, Bento XVI, na mídia internacional, sempre foi mais uma caricatura do que uma imagem real da pessoa dele: uma imagem de uma pessoa intransigente, fechada, dura, às vezes, até agressiva, chamavam-no de ‘cardeal tanque de guerra’. Sobretudo, porque ele teria posições contrárias a uma agenda mais liberal. As posições a respeito do aborto e do papel da religião explícita dentro dos processos democráticos”, lembrou.
16695065 905“E o filme ‘Os 2 papas’ não fez, se não, cristalizar esse clichê. Quem os conhece de perto, não correspondem às duas imagens que o filme apresenta. O filme é sobre os clichês, não é sobre as pessoas. Mas, terminou, de um certo modo, muitas pessoas ficaram entusiasmadas com o filme e tomam aquelas duas imagens como autênticas. Mas, quem conhece Bento, sabe, por exemplo, que ele não levanta a voz, que quando as reuniões que ele dirigia se tornavam tensas, ele resenhava as várias posições que chegaram até aquele momento e encerrava dizendo ‘Agora, com base nisso e as posições que aqui se manifestaram, nós vamos refletir, vamos nos reunir novamente em outra ocasião’, e, então, evitava que as situações degenerassem em conflito. […]Assim, até não sei nem como qualificar, como é que pode uma pessoa tão doce no trato, tão afável no trato, terminar tendo a imagem pública caracterizada como alguém duro”.
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Para o Bispo, a renúncia foi um gesto de muita grandeza. “Não é fácil renunciar uma função vitalícia. Não é algo simples, sobretudo, depois de São João Paulo II, que deu aos últimos anos do pontificado, no qual ele estava muito reduzido na sua atuação pessoal, aquele significado espiritual, místico, de comunhão na Cruz com Cristo. Então, Bento, ao tomar essa decisão, sabia que seria comparado a São João Paulo II e que não seria simples de ser compreendido”.

“Mas, é exatamente um gesto de uma grande pessoa que sabe que havia necessidade de alguém com mais vigor do que ele dispunha naquele momento, para enfrentar as tarefas que aquele Ministério implicava”, analisou.

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Foto: Patrick Hertzog/AFP

Publicação: Gabriel Rocha
Assessor de Comunicação Diocesana e PASCOM
Texto: Érica Bolonhezi
Jornalista Diocesana e PASCOM
Fonte: CNBB